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Lamento

Não vou me manifestar diretamente a respeito da nomeação do presidente de hoje ou do impedimento da presidente de ontem.
Apenas lamento.
Lamento que presidentes não terminem o mandato, justa ou injustamente, com uma frequência incômoda para uma democracia.
Lamento que o debate político seja tão carregado de ódio, rancor e maniqueísmo, a ponto de desautorizar o uso da palavra debate, em um momento em que tanta gente se interessa pelo assunto.
Lamento que a única ideia que a ampla maioria se agarre com paixão seja a negação de algo.
E que essa negação não seja a de um pensamento, proposta ou até de um pesadelo, mas de uma pessoa, o que não constitui propriamente uma ideia.
“Não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos” é muito pouco para uma democracia tão presunçosa e com tanto por fazer.

Sabe do que eu mais gostei nestas eleições recém-encerradas?

(Texto publicado originalmente na minha página no Facebook, em 28 de outubro de 2014, à 1h27)

Um pouco de reflexão política naïf.

Quase um mea culpa.Sabe do que eu mais gostei nestas eleições recém-encerradas?

Do engajamento. Do envolvimento da população. Dos mais diversos segmentos e pelas mais variadas formas. Dos posts no Facebook ao incêndio na urna eletrônica, o que não faltou foi paixão. Em muitos momentos irritou, preocupou ou enojou, não há dúvida.

O debate irracional e a intolerância não são um bom alicerce para a democracia, especialmente quando contaminam eleitores, candidatos e imprensa.

Mas não foi só isso. Nem tudo é intolerância ou preconceito. Política envolve paixão, e paixão implica angústia, impaciência e, principalmente, inconformismo.

O inconformismo, desde que calibrado por noções básicas de civilidade, como o conceito de respeito ao outro, pode ser um bom ingrediente para os alicerces da democracia. Misturado ao engajamento real, não apenas virtual, e ao contato humano, à reflexão e à informação bem fundamentada.

Hoje mesmo ouvi no ônibus um garoto falar no celular que pensava em se filiar ao PSDB. Não acho ruim. Pelo contrário. Sem entrar no mérito dos partidos, sair da rede social e conhecer a política real pode ser uma ótima contribuição. Não gosta do governo atual e simpatiza com o PSDB? Filie-se ao PSDB, melhore o PSDB! Quer se envolver mais com o PT, faça o mesmo. Filie-se e melhore o PT. O mesmo vale para o PSOL, para a Rede, para o DEM, PSC, PCO, PSTU, PMDB, PV, PSB…

Não tem lá muita fé ou saco para a política partidária? Sem problemas, amigo, há inúmeras instâncias de participação democrática que não são partidárias. A associação do seu bairro, o Conseg (Conselho de Segurança, entre vários outros conselhos específicos), a reunião de condomínio do seu prédio, o seu sindicato e ene outras. E ONGs, movimentos sociais…

Encontre a sua praia e mergulhe. A política ganha com a sua participação. E você mais ainda.

O pleito acabou, mas muitos continuamos com fome de participação. É natural.

A política é uma atividade humana espontânea, não um ofício suspeito. Apesar de todo o estresse, exagero e destempero, trazê-la de volta ao seu lugar me parece uma ótima perspectiva para todos nós.